sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Viaduto Negrão de Lima foi palco de mais um encontro importante na história da CUFA


Representantes públicos reafirmam seu apoio à entidade.

A CUFA recebeu, na tarde de 17 de abril, na base do Viaduto de Madureira (em seu espaço Cultural e Esportivo), as presenças ilustres do Ministro da Justiça Tarso Genro e do Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes, para a construção do primeiro Centro de Treinamento de Basquete de Rua no Brasil e do Centro Cultural da CUFA. Termos de compromisso público foram assinados durante o evento, que contou ainda com a participação do Diretor de Comunicação da Rede Globo, Luiz Erlanger; do juiz titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, Siro Darlan; do Secretário de Obras e Conservação do RJ, Luiz Antônio Guaraná; e de representantes da Petrobras e Eletrobrás.


Convidados reunidos após conhecerem cada uma das atividades realizadas no local,
tais como Skate, Break, Basquete de Rua etc.

Um dos documentos assinados foi o termo selando o compromisso do Ministério da Justiça com a CUFA, no qual se firmou a transferência de recursos – em torno de quatro milhões de reais – destinados à construção do Centro Cultural e Esportivo CUFA. No mesmo documento, a Prefeitura do Rio assinou o termo de concessão de uso do espaço sob o Viaduto Negrão de Lima para a CUFA por mais 20 anos. O local – que é utilizado pela instituição desde 1998 – abriga atividades educacionais, esportivas e culturais diariamente, atendendo a centenas de jovens.

Além disso, o encontro foi de grande importância para a entidade, pois durante o evento a Rede Globo confirmou a parceria com a CUFA para dar continuidade às relações que possibilitam e incentivam o desenvolvimento de atividades pela instituição.

A tarde de festa – que marcou um momento muito especial para os alunos, amigos, integrantes e parceiros da CUFA – teve início com as apresentações dos participantes das oficinas de Break, Graffiti, Basquete de Rua, Skate, Capoeira e outras.


Apresentação dos alunos da oficina de Skate

Após conhecer as oficinas, Tarso Genro e Eduardo Paes mostraram afinidade com o Basquete de Rua, ao som de muito Hip Hop. Na disputa, animada pelo MC Tony Boss, o ministro levou a melhor, ganhando de 2 X 1 e levando a galera ao delírio.


O ministro disputando uma partida de basquete com o prefeito

O rapper e fundador da CUFA, MV Bill, agradeceu a presença de todos os presentes e falou da importância da manutenção da parceria entre a instituição, o Governo Federal e a Rede Globo.


MV Bill saudando os presentes

“É uma grande ocasião estar aqui, é uma luta pelo Rio de Janeiro, um sonho que é realizado, poder transformar Madureira num pólo de cultura e esporte. Projetos como esses são capazes de salvar a vida da juventude e construir um futuro para cada um deles.” – disse MV Bill.

O primeiro convidado a se pronunciar foi o juiz titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, Siro Darlan, que declarou: “No momento em que as pessoas falam de muros, apartheid social – que divide as comunidades, temos aqui um Viaduto que une a sociedade. Não podemos ter uma cidade dividida. Ações como estas devem ser prestigiadas, pois a CUFA construiu em todo o Brasil uma grande aliança.”


Siro Darlan e Gringo, professor da oficina de Skate

Em seguida, Bill convidou todos a assistirem o vídeo institucional sobre a LIIBRA (Liga Internacional de Basquete de Rua), produzido e dirigido pelos alunos do curso de Audiovisual da CUFA.

Logo depois, o Secretário de Obras e Conservação do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Guaraná, mostrou ao público, no telão, as imagens de como ficará o Viaduto após a reforma. “A proposta é oferecer aos freqüentadores do viaduto espaços como vestiários, lanchonetes, quadra esportiva, o museu de imagem e do som da CUFA, um auditório com capacidade para 100 lugares e salas multiuso.”


Eduardo Paes, Luiz Antônio Guaraná e Bill

O Prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, relembrou o momento em que esteve na Cidade de Deus, durante sua campanha, onde recebeu carinhosamente do rapper MV Bill, em nome da CUFA, um quadro graffitado com sua foto, que se encontra atualmente em seu gabinete, simbolizando esta união.

Declarou ainda: “É importante esta parceria para o não esquecimento de uma sociedade, de uma juventude que busca espaço. Dificuldade e problema social não é sinônimo de desordem. A CUFA tem um papel fundamental na cidade. Vamos levar estas ações para outros viadutos. Contem conosco, vamos realizar esses benefícios, porque é isso que queremos e buscamos.”


O prefeito Eduardo Paes com um aluno da oficina de Skate

O Ministro da Justiça Tarso Genro finalizou falando que iniciativas como estas que envolvem juventude, educação, cultura e esporte são políticas públicas de segurança muito mais eficientes do que a presença de policiais nas favelas. E acrescentou: “A polícia, não só do Rio de Janeiro, tem de ser reeducada para saber tratar os adolescentes, saber trabalhar com a comunidade de forma digna, para protegê-la e não agir com violência. A juventude foi feita para amar, brincar e se educar.”


Tarso Genro, Siro Darlan, Eduardo Paes e Gringo

Esta solenidade marca um momento especial para a CUFA. O que antes já foi um sonho, a cada dia se torna realidade. Reafirma-se, então, a importância das parcerias no processo de construção da cidadania por meio de projetos, oficinas e ações que promovem o esporte, a cultura e a educação.

Essas parcerias só foram possíveis em função do trabalho realizado pela CUFA ao longo de 11 anos de muita luta, aprendizado e resultados. É a CUFA mostrando a que veio!

Por: Simone Basilio, Joyce Trindade, Lindon Johnson, Tássia de Carvalho, Márcia Mendes, Beatriz de Paula e Ana Letícia Lima

Vídeos:


RJ-TV Primeira Edição


RJ-TV Segunda Edição

Fotos: Édipo Pereira

MV Bill e Celso Athayde no Haiti

Último dia de MV Bill e Celso Athayde no Haiti
Bill conheceu a Favela Cidade de Deus haitiana, relembrou os tempos de infância e foi homenageado pelo Exército Brasileiro e a Marinha do Brasil

Em seu último dia no Haiti, Bill e Athayde acordaram cedo e foram visitar uma favela com um nome bem comum a eles: a favela Cidade de Deus, no Haiti. Ao percorrer becos e vielas, conversaram e conheceram muitos moradores de lá.

A homônima Favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, se divide em quatro partes, e uma das semelhanças apontadas por MV Bill era que a CDD do Haiti também se dividia em classes sociais. Segundo Bill, é nítido para todos que apesar da miséria, algumas pessoas eram, ainda assim, menos felizes e mais depressivas socialmente.

À tarde, visitaram um projeto da Viva Rio, uma organização não-governamental do Rio de Janeiro que faz trabalhos sociais no Haiti há alguns anos. O trabalho que Bill e Athayde foram conhecer de perto é voltado para mediação de conflitos entre jovens, usando o Hip Hop e outros elementos como instrumento de transformação. Sim, o Hip Hop também é instrumento de transformação no Haiti.

Nesta despedida do Haiti, MV Bill voltou a ser criança novamente. Ele brincou com as crianças no Forte Nacional, uma base militar brasileira onde são feitos vários projetos e ações sociais com jovens e seus familiares.

Celso Athayde enviou à CUFA, durante todos os dias em que esteve no Haiti, um relatório apurado, com várias impressões acerca do país, seus costumes, o cotidiano do povo haitiano. Abaixo, Athayde fez um relato que ao mesmo tempo emociona e choca, tamanha a miséria e dificuldade.

“Algumas coisas que ali aconteciam já não eram para nós novidade no Haiti – sobretudo nas favelas como CT Solei, Bel Air , Broklin, Cité Gerard, Boston, Ti Haiti, entre outras –, como ver mulheres e homens  tomando banho na rua absolutamente nus ou mesmo urinando ou defecando à luz do dia em espaços públicos, como se fosse a coisas mais natural do mundo, e para eles é. As crianças são encarregadas de jogar fora, às vezes da noite anterior, no lixo em frente às suas casas ou nos rios entupidos. Pois é, a vida dessas pessoas nestas favelas são tão primitivas que suas casas se quer possuem banheiros. Sem falar que não têm luz, esgoto e comida. A impressão que temos é que todas as pessoas do Haiti trabalham na rua, vendendo qualquer coisa, ou, quem sabe, trocando por outras. O fato é que as ruas ficam repletas de gente, que divide suas comidas regionais vendidas com lixo, esgoto e animais. Um profundo caos em matéria de higiene e saúde publica...”

O Exército Brasileiro

“Derrubamos em nós o mito de que a população não apóia a presença das tropas, sejam elas brasileiras ou não. É evidente que existem pessoas contrárias a essa permanência militar da ONU no Haiti, mas pelo que nós percebemos e perguntamos espontaneamente a quem passava nas ruas e becos, temos a certeza – eu, pelo menos, tenho – de que essa permanência é fundamental e acertada. Se 20% das histórias contadas por esses moradores infelizes e sem educação (50% são analfabetos) forem verdade, se as gangues realmente faziam as atrocidades citadas, então não seria realmente possível promover a paz e as ações sociais nesse ambiente sem que antes houvesse uma intervenção para restabelecer a ordem. Eu, particularmente, perguntei a muitas pessoas. Existiam as que diziam que não podia falar gravando com medo de represália, mas que era importante a presença das tropas. E para fechar essa questão, eu reproduzo aqui a resposta de um jovem de 21 anos da favela de Belé, historicamente uma das mais violentas do Haiti: ‘O Brasil tem armas grandes, os facínoras têm medo dos brasileiros. Se o Brasil forem embora eles vão voltar e vão oprimir a gente. Eu prefiro que o mundo acabe’.

Bem, amigos, a mim não interessa nada além da realidade, e essa foi a que eu vi. Mas gostaria que vocês perguntassem para uma pessoa que está presente nessas comunidades e fazendo um trabalho com elas: é o comandante Amaury, que na condição de militar poderá discutir e ser questionado por todos vocês. E, aliás, acho muito bom que seja. O e-mail dele é g7.haiti@gmail.com


As gangues e a violência

“As gangues haitianas sempre tiveram fama de serem muito violentas, vide uma informação que a mim foi narrada por um jovem morador e depois confirmada com riqueza de detalhes por um major da Forca Nacional, que passou a patrulhar as favelas no horário entre 04h e 06h (da manhã):

Quando os trabalhadores e trabalhadoras estavam indo para seus trabalhos com seus poucos pertences é que as gangues cercavam-nos para lhes roubar. Aqueles que não tinham nada para perder eram estuprados, fossem homens, mulheres, velhos ou crianças.

Outras pessoas afirmaram que cada gangue tinha um estuprador, que muitos deles iam para os EUA colocar uma prótese no pênis com ponta de aço para não se limitar à humilhação, mas destruir a vítima. Era evidente que aquilo era real, pois mesmo no Brasil muitas vítimas são espancadas por marginais quando não têm pertences, e tratando-se de um país destruído, de favelas que beiram a selvageria, isso não seria nada improvável.

Bill várias vezes se emocionou durante essa visita, comparando a Cidade de Deus que ele mora e a outra Cidade de Deus que aqui ele visitava. Muitas semelhanças e muitas tristezas. Mas as fotos falam por si mesmas.

Hoje foi o último dia de Haiti, sexta-feira. Sábado é dia de voltar pra casa. Saímos da Cidade de Deus haitiana e partimos para o Forte Nacional, mas antes demos uma passadinha rápida no Palácio do Governo...

Esse é um dos poucos contrastes do Haiti: quando temos um Palácio tão nobre, tal alvo e tão imponente, a metros de distância encontramos pessoas famintas.


Celso Athayde em frente ao Palácio

Outra coisa que me chamou a atenção foi que as mulheres não se depilam. Então, perguntei ao nosso tradutor, um negão de 57 anos, a razão. Ele explicou que em sua cultura as mulheres não se depilam porque quando elas fazem isso é porque estão doentes, com doenças contagiosas, e por tanto, nenhum homem se aventuraria a uma relação com elas.

As curiosidades não paravam. O sol era escaldante e eu já tinha visto em alguns momentos alguns adultos espancarem crianças – imagino que fossem seus filhos, ninguém intervinha ou, se quer, esboçava reações. Em nossas conversas com a população ficamos sabendo que as brigas de família são comuns, exatamente como em qualquer lugar do mundo, só que ali tinha uma diferença: os pais, sobretudo as mães, batem nos filhos com pedras para machucá-los, e é muito comum, seja em família ou entre vizinhos, os esfaqueamentos sem perfurações profundas, mas aqui existe a cultura do corte no corpo das pessoas, sobretudo no rosto. As garrafas também são muito usadas para essa finalidade.”


Confira algumas fotos:


Esse é o famoso Tap Tap, o meio de transporte do Haiti, que sempre vem com nomes de artistas ou jogadores de futebol do Brasil.


Telefone público


Vale o registro


MV Bill, Coronel Alan e Renato, da Equipe do Domingão do Faustão


Aqui estou, no Forte Nacional


Seguindo a lógica de um mercado informal diferenciado, essa família vai tentando a sua sobrevivência vendendo refeição num dos becos da Cidade de Deus 


Não sabemos o nome dela, mas é uma ilustre moradora.
Só não compreendemos como pode estar viva diante de tanta miséria.

Por: Fernanda Quevedo


Juventude haitiana e o Rap

Na incansável missão, MV Bill e Celso Athayde relatam sobre os jovens e a influência (ou a falta de influência) do Rap naquele país. Athayde, que é criador do maior e mais importante Prêmio de Hip Hop da América Latina, o Hutúz, destaca que grande parte dos jovens haitianos aprecia o Rap, cantando-o em crioule, a língua nativa da favela Citei Solei, e em francês, que é a língua oficial. Além disso, questionam o Rap americano.

Confira na íntegra o que Celso Athayde disse em seu diário de bordo:

“Apensar de viverem no berço da mais completa miséria, de olharem para o futuro e não conseguirem ver muita coisa, os jovens existem, e em sua ‘quase’ totalidade no Rap, no Hip Hop com sotaque crioule (língua da ilha), além do francês, que é a língua oficial. Resta-nos agora saber se o Rap americano vai dar para esses jovens alguma consciência e realizações, além do conhecido protesto.”


MV Bill e os jovens

Por: Fernanda Quevedo


Relato de Celso Athayde sobre o Haiti

“Confesso que eu sempre fiz críticas ao que eu chamava de ocupação das tropas brasileiras no Haiti, mas ao conhecer o que se passa por lá, essas críticas se tornaram ingênuas e infantis, pois não se trata de uma ocupação, mas de uma forca de paz que tem o objetivo de estabelecer a ordem pública no país a pedido do próprio governo haitiano. E agora sei que muitos outros países estão nesta missão a convite da ONU. Mas eu tenho mesmo a mania ou até o desejo de criticar, e se a ONU não entrasse para fazer esse trabalho, eu certamente acusaria a de ONU de estar virando as costas para o conflito no Haiti só porque só tem preto lá, e chamaria a ONU de racista.

Não tem jeito: ou o Brasil se desliga da ONU ou vai estar sempre propensa a fazer trabalhos com ela, o que é o caso.

Na foto abaixo: Resolvemos ir com a mesma tropa para conhecer, à noite, a favela mais violenta de Porto Príncipe. Juntamos os soldados que fazem toda noite as patrulhas para mostrar que estão presentes. A miséria do lugar é tão grande que tudo vale muito dinheiro. Por exemplo: A existência das gangues tinha o objetivo de explorar os miseráveis cobrando pedágios em todos os serviços para a comunidade, como água. As gangues então se apoderavam desses benefícios do Estado, que acabavam não chegando à população. Portanto, passei a entender que as armas do exército realmente teriam que existir. Do contrário, não existiria forma de fazer uma pacificação eficiente.”


Bill com os soldados

“Embarcamos com a tropa do exército para conhecer a favela à noite. Não haveria incursões ou tiros, simplesmente queríamos comparar o que vimos durante o dia, agora à noite.”


Da esquerda para a direita temos o coronel full Alan, coronel Gerson, Bill, Cris Gomes, Celso Athayde, capitão de fragata Amaury e Renatinho Cardoso. Estávamos de saída para ver a noite.

Biscoitos e mitos

"Essa imagem é de uma favela chamada Jamaika. Encontramos essa senhora fazendo biscoito no chão para comercialização, e vejam, é feito de barro e areia...”

“Apesar da nuvem, eis o sol. Estamos no Porto de WAAF, um lugar tradicional da região.

“Chegamos à creche-escola na favela de CT Solei, em Porto Príncipe, e o “Mensageiro do KA-o” resolveu mostrar sua performance para os garotos. Eu sou testemunha de que nesta foto o Bill saltou três metros do chão, chegando ao equivalente a um prédio de 17 andares. E, claro, saiu da quadra nos braços da galera...”

“Hoje entendo que a força do exército, tanto brasileiro quanto dos outros 16 países é para garantir as ações sociais que a ONU tem implantado lá. Esta imagem foi feita sob um sol de 40°, quando o exército estava entregando alimento para 500 famílias previamente cadastradas pelos líderes locais. O estresse motivado pela fome não permite nenhum tipo de organização – todas as tentativas de organizar quando se tem certeza de que a comida não é para todos, são frustradas. E é bom lembrar que pelo menos 50% da população são compostos por analfabetos e vivem sob total miserabilidade.”

“Nesses três dias de Haiti, a única coisa que encontrei que sinaliza mudanças é a imagem impecável de todas as crianças uniformizadas. Eu tenho acompanhado o dia-a-dia de Porto Príncipe (Cidade do Sol), e essas mesmas crianças, contraditoriamente, vivem em grandes lixeiras, literalmente.

 


Freira brasileira que cuida da creche-escola


Celso Athayde


Tropas Brasileiras no Haiti: Repressão ou ajuda?
Celso Athayde reflete acerca da relação do Exército Brasileiro com a população haitiana

Celso Athayde está no Haiti desde domingo (08/03) e diariamente tem enviado uma espécie de Diário de Bordo, relatando sua experiência para a CUFA. Hoje ele comentou sobre as tropas brasileiras que ali se encontram em missão de Paz, e sua relação o povo haitiano. Confira o que ele disse a respeito:

“Os militares do Brasil são referência para essas pessoas, tanto no tratamento quanto no resultado. Amigos, assim como no Brasil ninguém quer ser escravizado pelo crime organizado, facções criminosas, ninguém quer ter seus direitos podados por marginais. A Forca de Paz está aqui a pedido da ONU para isso, para restabelecer a paz no país, e está conseguindo. Eu vi em todos os lugares que passei as pessoas, as crianças, as famílias mandando beijos para os militares. As únicas referências que eles têm do Brasil são os militares e os jogadores de futebol, e são apaixonados pelo nosso país.

Eu tinha resistência em relação à presença do Brasil porque sempre que me vem à cabeça os seus coturnos e fuzis, me vem a lembrança da ditadura brasileira, isso acaba ficando no nosso imaginário. Eu preferia que o exército não estivesse aqui, que nenhum país estivesse aqui, mas realmente não prefiro que o mundo na “pessoa” da ONU ignore a desgraça e a miséria a que esses humanos estão submetidos.

Certamente muitas pessoas não devem gostar desta presença, sobretudo as gangues que ainda não foram dizimadas e as pessoas que se beneficiavam delas. Essas gangues não só vendiam drogas, mas exploravam as pessoas com pedágios, taxas e servidões, exatamente como acontece com as milícias no Brasil (não é só no Rio de Janeiro).

Respondendo objetivamente: As pessoas são apaixonadas pelo Brasil, e são muito agradecidas pela presença das tropas brasileiras em seu país. Mas, insisto, todos querem que os militares voltem para seus países o mais breve possível, e eu também.”

Observações sobre o Haiti – Por Celso Athayde


Os jovens

“Engana-se quem pensa que estes jovens estavam assistindo a final do mundial de futebol, esporte que eles amam. Estavam sim, assistindo a um vídeo de Hip Hop americano. Ao avistar esses jovens reunidos, Bill se juntou a eles para ver do que se tratava, e então estava lá o Hip Hop, mostrando que pode ser uma forma importante de mobilização.”


Jovens assistindo videoclipe de Hip Hop

Sempre acreditei que era fantasia essa história de que todos do Haiti adoram o Brasil, esse carinho por Ronaldinho, Kaká e outros astros do nosso futebol. É normal em toda parte do mundo quando eles estão em alta. Mas não, era real. Em todos os lugares existem bandeiras do Brasil, amor pelo Brasil. Esse amor passa pelo respeito com o qual a população fala das coisas do Brasil e pelo modo como somos recebidos pelo povo, o que derruba outro mito, pois eu achava que esse carinho da população da favela pelos soldados brasileiros era coisa de montagem de televisão. Ledo engano...

Todos nas ruas, ou muitos nas ruas falavam com os soldados brasileiros e demonstravam um carinho enorme por eles. Isso já respondia a todos os meus questionamentos sobre se eles deveriam estar ali ou não.

O lugar é produtor natural de violência, falta saneamento básico, comida, água, emprego, enfim, falta tudo. Então surgem do caos os predadores dos próprios lugares, ameaçando e matando pessoas em nome de um suposto poder.”

“Como nossa visita ao Haiti é oficial, temos obrigatoriamente que respeitar todas as normas de segurança internacional da ONU. Esse é o nosso veículo do dia-a-dia”.

 

“Estou apresentando a vocês a maior feira popular do Haiti, a “cozinha do diabo”, lugar freqüentado por mais de 100 mil pessoas por dia. Acontece até às 15h, depois desse horário os riscos começam a ser mais previsíveis...

A feira fica em Ct Solei, favela com mais de 600 mil habitantes, sem esgoto, sem luz... Só para se ter uma idéia, as casas não possuem banheiros e as necessidades são feitas do lado de fora, às vistas de todos. É comum ver mulheres e homens tomando banho na rua sem uma peça de roupa se quer.”

Celso Athayde é Secretário Geral e um dos fundadores da CUFA – Central Única das Favelas.


Ao visitar creche no Haiti, Bill se emociona

Ao visitar creche no Haiti, Biil se emociona com tamanha pobreza. Segundo Celso Athayde, as ações da creche vão além. Coordenados por uma freira brasileira que vive no Haiti a mais de 20 anos, surgiu a idéia de fazer uma cooperativa com as mães das crianças. “Apesar de elas ganharem muito pouco, acabam sendo referência e elite na favela, pois as outras famílias recebem nada” – ressaltou Celso.

Veja algumas fotos:

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Por: Fernanda Quevedo


MV Bill e Celso Athayde no Haiti
Dia-a-dia, visitas, saídas e descobertas

A equipe da CUFA, representada por Celso Athayde e o rapper MV Bill, embarcou para o Haiti com a equipe do Domingão do Faustão, Cris Gomes e Renato Cardoso (campeão carioca de futevôlei – 1994), com destino a Porto Príncipe, capital daquele país.

O objetivo da viagem é acompanhar de perto a missão do Brasil – pela ONU (Organização das Nações Unidas) – no local e ver de perto aquele povo, há anos mergulhado numa crise gigantesca que transformou o Haiti num dos países mais miseráveis do mundo. Desde 2004, o Brasil se destaca na ajuda humanitária e na reconstrução do país.

O quarteto embarcou no avião da Força Aérea Brasileira, no Rio de Janeiro, no dia 08 de março (domingo), a convite do Exército Brasileiro. Do Rio, eles rumaram para Brasília. Em seguida, foram para o Amazonas, depois para a Venezuela e, por fim, para Porto Príncipe.

Informações sobre o Haiti

É a segunda maior ilha do mar do Caribe. Seu idioma oficial é o créole, mas lá também se fala francês, pois o país já foi colônia da França.

A população haitiana está estimada em 8,5 milhões de pessoas. Cerca de 95% delas são de ascendência africana e metade da população não sabe ler nem escrever.

O Haiti é o país mais pobre da América, tão miserável como Timor-Leste e Afeganistão. A expectativa de vida é de apenas 51 anos. Sua renda per capita é 1/3 da renda da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.


O Haiti é aqui

Bandeira do Brasil nas alturas

No dia 11 de março o General Santos Cruz mandou uma tropa convidar o rapper MV Bill para a cerimônia de abertura do dia. Tratava-se da formatura completa da tropa da ONU. Alguns militares estavam voltando para o Brasil e outros chegando para a missão de paz no Haiti.

Bill aceitou o convite e lá estava ele hasteando a bandeira do Brasil. Abraço para os soldados que vão e para os que chegam...


MV Bill hasteando a bandeira do Brasil

 


MV Bill entrevistando o General Santos Cruz, comandante da Força Brasileira no Haiti (ONU).


Cris Gomes e Renato Cardoso filmando tudo que vêem pela frente

Relato de Celso Athayde

“Nosso dia ontem começou bem cedo. Após a formatura na favela Cite Solei, fomos conhecer um projeto de uma creche aonde as crianças são levadas bem cedo para receberem educação até a idade adulta, um projeto financiado por instituições internacionais.

Impressionante dentro desse quadro caótico é ver que, apesar de todas as dificuldades, todas as famílias mandam seus filhos para as escolas limpinhos e bem arrumados.

Outra coisa interessante é que não vemos aqui nenhuma pessoa sem camisa: eles entendem que esse comportamento lembra a escravidão.

No mercado informal os homens raramente participam, pois se trata de uma atividade não nobre para sua cultura. Salvo alguns casos.

Depois fomos para uma ação cívico-social para assistir o Exército Brasileiro distribuir alimentos para 500 famílias. Esses alimentos vieram de alguns países, e agora entendo que a função do exército vai além do que eu imaginava. Mesmo numa ação simples como essa, de entrega de alimentos, a fome e o desespero são tão grandes que qualquer pessoa de boa vontade que venha se aventurar a fazer essas entrega sem tal força militar estará correndo risco de vida e colocando a vida dos haitianos em risco também. Pois os saques são constastes e as brigas para ver quem consegue um quilo de arroz, por exemplo, poderá ser mortal.

Fomos depois para uma feira – a “cozinha do inferno” – para atender a mais de 200 mil pessoas. Uma feira aberta, onde se vende de tudo, numa sujeira absoluta. Nada pode ser comparado a essa feira, que também fica nessa favela chamada Cite Solei.

O clima é muito tenso, natural para as condições em que se vive nesse lugar, mas mesmo assim nossos irmãos haitianos são sorridentes com os brasileiros. Portanto, não se trata de mito dizer que somos amados no Haiti, é verdade... Tanto que, apesar do idioma ser o francês e o dialeto ser o créole, muitos deles falam português. É claro que parte desse fato é devida ao contato com as tropas militares que estão ali para garantir a ordem pública em nome da ONU e a pedido do próprio governo do Haiti.”


Base da ONU onde estão presentes 17 países ajudando a manter a paz e a ordem no Haiti.
A expectativa é de que haja, em abril, eleições para o Senado

Estes são alguns dos famosos “tap tap”, meios de transporte locais:

Por: Simone Basilio


Celso Athayde e MV Bill visitando o Haiti
Criação da Liga Haitiana de Basquete de Rua é um dos motivos da viagem

Com cerca de 300 mil habitantes, a favela haitiana Cité Soleil, localizada na capital Porto Príncipe, está recebendo a visita de Celso Athayde e MV Bill. A dupla pretende, entre outras coisas, fundar a Liga Haitiana de Basquete de Rua para, a exemplo do que acontece no Brasil, a população local passe a contar com mais uma oportunidade de lazer, exercício de cidadania e socialização.


Celso e MV Bill com os basqueteiros do Haiti


MV Bill com menino e a bandeira do Haiti


MV Bill e o rapper Don Da

Agora é aguardar os resultados desta empreitada!!

Por: Simone Basilio

A Cufa

A CUFA – Central Única das Favelas – é uma organização sólida, reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e culturais. Foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas do Rio de Janeiro – principalmente negros – que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver.

Tem o rapper MV Bill como um de seus fundadores, este que já recebeu diversos prêmios devido à sua ativa participação no movimento Hip Hop. Por exemplo, a UNESCO o premiou como uma das dez pessoas mais militantes no mundo na última década. Além dele, a CUFA conta com Nega Gizza, uma forte referência feminina no mundo do Rap, conhecida e respeitada por seu empenho e dedicação às causas sociais. Nega Gizza é também Diretora do HUTÚZ, o maior festival de Rap da América Latina, que é produzido pela CUFA.

O Hip Hop é a principal forma de expressão da CUFA e serve como ferramenta de integração e inclusão social. Por ser um movimento que, há 20 anos, sobrevive se delineando nos guetos brasileiros mesmo sem o apoio da mídia, ele cresce e se fortalece a cada dia, arrebatando admiradores de todas as camadas sócio-econômicas e deixando para trás o rótulo de “cultura do excluído”. Ao longo de sua existência, o Hip Hop vem criando um movimento forte, atraente, com grande potencial, e segue abrindo portas para novos nichos comerciais ainda não explorados.

Através de uma linguagem própria, a CUFA pretende ampliar suas formas e possibilidades de expressão e alcance. Assim, ela vai difundindo a conscientização das camadas desprivilegiadas da população com oficinas de capacitação profissional, entre outras atividades, que elevam a auto-estima da periferia quando levam conhecimento a ela, oferecendo-lhe novas perspectivas.
Agindo como um pólo de produção cultural desde 1999, através de parcerias, apoios e patrocínios, a CUFA forma e informa os cidadãos do Rio de Janeiro e dos outros 25 Estados brasileiros, além do Distrito Federal. Dentre as atividades desenvolvidas pela CUFA, há cursos e oficinas de DJ; Break, Graffiti, Escolinha de Basquete de Rua, Skate, Gastronomia, Audiovisual e muitas outras. São diversas ações promovidas nos campos da educação, esporte, cultura e cidadania, com mão-de-obra própria.

A equipe CUFA é composta, em grande parte, por jovens formados nas oficinas de capacitação e profissionalização das bases da instituição e oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade; em sua maioria, moradores de comunidades carentes.

Dentre as ações que imprimem legitimidade ao trabalho desenvolvido pela CUFA, vale a pena lembrar o já citado HUTÚZ – único evento de grande porte e expressão focado exclusivamente no Hip Hop, sendo um marco, um referencial para esta cultura. Além dele, existe a LIIBBRA – Liga Internacional de Basquete de Rua, que surgiu através de uma atitude orgânica dentro do HUTÚZ 2003, quando jovens improvisaram jogadas de basquete com uma cesta de lixo, o que fez com que esta modalidade esportiva ganhasse espaço no HUTÚZ 2004 e um campeonato nacional em 2005.

Atualmente, CUFA, HUTÚZ e LIIBRA são marcas de identidade singular, iniciativas sem precedentes, que fidelizaram seu próprio público. Pois, ainda que este não seja necessariamente ligado às áreas de atuação de cada uma dos eventos, a própria CUFA, enquanto instituição, faz a diferença.

Cufa Fumaçê

Aqui voce saber as atividades realizadas na Cufa am Realengo, Comunidade do Fumaçê.

Grande abraço em todos